quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O Cara do Jornal

Tem certas pessoas na nossa vida, que nos chamam a atenção sem que sequer haja uma simples troca de palavras.
Assim é o Cara do jornal.
Sempre vejo o Cara do jornal no sinal quando estou indo para o trabalho. Obviamente existem pessoas que devo cruzar todo santo dia no caminho de casa pro trabalho, mas certamente essas não me chamam tanto a atenção como o Cara do jornal. Ele está sempre lá com uma cara séria, na maioria das vezes usando um boné da empresa. Ele tem uma expressão enigmática no rosto (na verdade é neutra, o que o torna indecifrável), como se estar às 9 horas da manhã no meio de uma grande avenida, com um sol muitas vezes escaldante, não fosse algo que o incomodasse.

Não sei se ele já notou meu hábito de sempre atravessar naquele sinal. Certamente olha para mim, como olha para as dezenas de pessoas que devem atravessar aquele sinal toda manhã. E com toda a certeza ele não imagina que alguma pessoa está escrevendo sobre ele. Muito menos que seja eu. Ele não iria adivinhar.

Hoje, quando o avistei de longe, pensei qual o motivo daquela seriedade toda e se ele iria sorrir. Para minha surpresa o Cara do jornal estava sorrindo maravilhado!
Na avenida onde ele sempre fica, estavam varias garotas segurando grandes bandeiras de algum candidato que eu não olhei o nome. Encostada a um poste estava uma dessas garotas, e o Cara do jornal conversava com ela, logo o sinal fechou e ele se despediu da garota. Ele estava com um sorriso tão satisfeito como quem acabou de ganhar na loteria e guarda isso somente para si.

Aquele sorriso se refletia no olhar. Momento esse que durou apenas a distancia entre o poste e sinal. Ele olhava para o chão sorrindo, e depois olhou – ainda sorrindo – para as pessoas que ali transitavam. Logo se recompôs como se uma voz divina o chamasse de volta ao trabalho Trazia a mão fechada sob o queixo como que segurasse aquela vitória para ela não escapar.

Um comentário:

Sir Louis e Sir Wonka disse...

Conseguir transcrever um acontecimento corriqueiro de nossas vidas não é fácil. É preferível aos que se dedicam à arte de escrever, a ficção, pois para ela só basta a imaginação de quem escreve.Não existem meios externos que interfiram na história (até tem,mas são sentimentos do autor,e continua sendo mais fácil da mesma forma). Já relatar em forma de conto ou de crônica ou seja lá do que for, os acontecimentos do nosso dia-a-dia que nos chamam a atenção é algo complicado. Requer um analítico senso de observação,percepção e, acima de tudo, um bom conhecimento de vocábulário.
Você faz tudo isso muito bem,meu amor.Eu acho bem dificilzinho.
Continua fazendo isso.Eu apoio.
Te amo =*****